Lembro-me de ti... Habitas-me em segredo desde sempre, há um tempo antigo, mais antigo que o meu próprio tempo.
Sei-te de cor como um poema que lemos vezes sem conta. Conheço-te cada feição, cada gesto, cada contorno, cada silêncio. A tua nudez mistura-se no calor das minhas mãos. Balança, no ondular da minha respiração, trazendo-te de volta vezes sem conta.
Visitas-me ao cair da noite e trazes o cabelo molhado, cheirando a mar. Num sussurro de palavras ainda por inventar. Numa onda apertada. De abraços fundos e num sorriso de sol. Beijas-me e o teu beijo escorrega para dentro, pelo avesso dos meus lábios. Deitamo-nos lado a lado e olhamo-nos horas a fio. Imóveis. Com uma alga a crescer-nos nos corpos. A entrelaçar-nos. A ganhar raízes. Lembro-me de ti e é a tua voz que ouço nos pensamentos, quando tudo se cala. Numa espécie de música ou água. Fazemos amor como tinta e papel mas nunca te saberei escrever...
Só sei lembrar-te assim... e é uma lembrança feliz.