sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Suave... em ti

 
E quando me perguntaram o que queria ser na tua vida, eu não respondi... Sabia só que quero ser uma coisa boa, uma coisa doce, uma memória suave que não te magoe...
Posso ser um poema? Posso ser uma música? Posso ser a lua para ti? Posso ser o teu mar?

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Do desencontro


Incendeiam-me ainda os beijos que me não deste
E cegam-se os acenos que me não fizeste
Da janela irreal onde o teu vulto
Era uma alucinação dos meus sentidos.
Mas, decorrida a vida, e oculto
Nestes versos doridos,
A saber que não sabes que te amei
E cantei,
E nem mesmo imaginas quem eu sou
E como é solitária e dói a minha humanidade,
Em vez de te acusar
E me culpar
Maldigo o arbítrio da fatalidade
Que cruelmente nos desencontrou.
 
Miguel Torga, "Absolvição" in Antologia Poética

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Como ouro...

 
Quando o coração dói mais, fujo do mundo e escorrego para dentro de mim... Vou até um tempo que brilha como ouro no fundo da minha memória... Lembras-te? Eu ia ter contigo ao fim da tarde com o coração descompassado e o corpo a tremer muito... Tu fechavas a porta à chave, mudavas a disposição das luzes e abraçavamo-nos com a certeza infinita de tudo estar certo naquele momento... Era ali, a horas tardias, que no teu colo, no teu abraço, no pulsar do teu coração contra o meu, todas as dores se apaziguavam... Era a certeza de te amar contra o mundo. Era a certeza de te chamar meu. E tu sorrias, e passavas os dedos pelo meu cabelo e falavas em parar o tempo...
Sim, quando o coração dói mais, regresso a esse tempo parado, perdido algures dentro de mim, que se vai confundindo já com um sonho irreal... Tenho medo de perder as memórias... Tenho medo de esquecer o teu cheiro, o tom da tua voz, o som do teu riso alegre... Por isso, quando o coração dói mais, quando a solidão é insuportável e a saudade me rasga o peito, mesmo sem entender porquê, o teimoso do meu coração regressa a esse tempo parado e apazigua-se... A dor acalma finalmente e cheio de doçura, uma doçura que é toda para ti, ele teima em escrever cartas de amor. E são todas para ti.
Como esta.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

As palavras que sempre te direi

 
Podemos morrer se apenas amámos. - Bernardo Soares

Tão simples, como são as coisas certas - Amor é quando  queremos que a outra pessoa seja feliz, independentemente de estar ou não connosco.
É verdade. O amor é isso mesmo. É querer toda a felicidade do mundo para o nosso amor, mesmo que não seja possível partilhá-la com ele. Amor não é "e agora que já não estás comigo, quero que ardas no inferno.", como tantas vezes acontece.
Amei. Sei, porque passam os dias, os meses, os anos, passam os homens e, no entanto, ele permanece. Não se trata de uma escolha. Não faço para que isso aconteça, ou que não aconteça. É assim. Simplesmente. Também não sou masoquista ou mártir. Isso não me impedirá de amar outras pessoas. E mesmo voltando a amar com a mesma intensidade, isso não apagará nunca este amor. Amei esse homem, amo-o e amá-lo-ei para o resto da minha vida. Sei isso, como sei que respirarei até ao dia em que morrer. Não é uma tragédia. Pelo contrário. O amor é eterno e infinito. É com ele que continuo a aprender isso todos os dias.
Outros passaram pela minha vida. Mais alguns passarão, certamente. Uns são-me agora indiferentes. Pouco me importa se serão felizes ou não. A outros desejo-lhes que alguém brinque com a sua vida exatamente como brincaram com a minha, quando por ela passaram. Porque me magoaram. Porque não os amei, é simples. Nem eles a mim. Que a roda da vida lhes dê o que merecem. Também eu terei magoado quem não amei. E a vida já se encarregou ou encarregará de mo relembrar.
Ao meu amor, porém, desejo-lhe tudo de bom que a vida lhe puder oferecer. Ao meu amor desejo-lhe outro amor, a felicidade e a alegria, a abundância, a paz, a serenidade, a excitação, o melhor da vida. Mesmo que não comigo. Sei que também ele me deseja igual. E sei que o nosso desejo é irreal, utópico, ingénuo. Porque a vida é sofrimento, com lampejos de felicidade. E sei que quando ambos nos tivemos tão próximos, fomos demasiado loucos para entender a raridade do que possuíamos. Desperdiçamos o nosso amor. Julgavamos que iria acontecer mais vezes, poucas talvez, mas algumas. Depois amadurecemos e percebemos que não. Que fomos uns felizardos. Que tivemos aquilo que muita gente procura por vezes uma vida inteira, sem nunca o encontrar. E que se acontecer de novo, é uma sorte, uma benção preciosa.
Por isso, meu amor, estas são as palavras que sempre te direi, quer as leias ou não, quer as ouças ou não. Que te amei, que te amo, que te amarei, haja o que houver. Que sempre me deste tudo o que pudeste e sabias. Que eu sempre te dei tudo o que pude e sabia.  Que quanto mais vida passa por mim, mais certeza tenho disto. Que não me esqueço do que via sempre que mergulhava nos teus olhos - o amor. Que o meu coração transborda ainda com esse amor. Que te desejo toda a felicidade do mundo.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Foi por ti

 
Foi por ti. Hoje sei que foi só por ti.
Por ti nasci, morri e inventei-me vezes sem conta... Por ti atravessei mares e travei rios, desci abismos e subi a pulso montanhas escarpadas que me rasgaram as mãos, por ti tive medo e fui forte, caí e levantei-me, lambi feridas e sequei lágrimas... Por ti inventei nomes que não tinha e construí casas que fossem ninhos onde pudessemos amar-nos... Por ti acreditei e sonhei, inventei o tempo, ergui pontes e derrubei muros que nos separavam... Por ti recomecei, do princípio, todas as vezes... Por ti fui feliz, fui onda e sereia, ave e árvore, sangue, suor, seiva e fruto... Por ti fiz juras e cumpri-as. Por ti perdoei e esqueci. Por ti engoli a solidão e as noites sem dormir, quando no escuro o teu nome teimava nos meus lábios... Por ti fiz-me planície, fui mansidão, e fui chuva revolta em madrugadas de tempestade... Por ti lutei às cegas, como uma mariposa perdida... Por ti fui tudo e fui nada... Por ti, só por ti, fui tudo o que podia ser... E por ti eu fui feliz, fui riso e alegria, fui música e sonata... Fui água, lua, noite e praia...
 
Por isso..., agora não sei de mim... Procuro-me e não me encontro... Agora não sei quem sou...
Porque tudo o que aconteceu em mim, foi por ti.