Fui buscar o telemóvel ao sítio onde o tinha escondido e fiquei a segurá-lo nas mãos durante muito tempo, sentindo o peso das tuas palavras gravadas para sempre. Dezasseis mensagens tuas. Sei-as de cor, bem como as datas e as horas a que foram enviadas. Não precisava de o ligar para as reler porque simplesmente, sei-as. No entanto, um estranho desejo me fazia querer vê-las brilhando no ecrã, talvez para me convencer de que tudo não foi um sonho... Mas completamente descarregado, ele não se ligou. Estava apagado. Com uma tristeza infinita, liguei-o à corrente e deixei-o a carregar enquanto pensava como isto é parecido com um coração... Um coração também precisa de carregamentos obrigatórios, precisa de palavras, de gestos, de lembranças, de sorrisos, para continuar a bater, a pulsar cheio de vida. Esquecido a um canto, ele em breve perde a força do bater e vai enfraquecendo cada vez mais, até parar. Até morrer.
Talvez tenha sido isso que eu vim aqui fazer hoje: encher o meu coração de vida, obrigá-lo a não desistir, a não parar de pulsar por ti. Vim ouvir a tua voz, eternizada nas sms que me mandaste, vim resgatar os sonhos que elas encerram. Vim bombear o meu coração de vida.
A carga do telemóvel está completa e finalmente ligo-o e leio tudo mais uma vez. Recordo cada momento com uma saudade doída, muito funda... e relembro-te.
São horas de sair. Olho o telemóvel pousado ao meu lado, de novo sorrindo cheio de vida e decido que hoje não o escondo mais. Hoje vou levá-lo no bolso do casaco, vou tocar-lhe mil vezes durante o dia, os meus dedos vão abraçá-lo como se fossem as tuas mãos... e vou sorrir porque não foi um sonho. Foi verdade, a mais pura das verdades.
Com o coração cheio de força e de vida, saio com as tuas palavras nas mãos, escondidas junto ao meu corpo, e vou trabalhar mais feliz.
Porque o meu amor por ti está intacto. E porque não foi um sonho.