sábado, 13 de fevereiro de 2016

A outra metade de mim


Eu sou tu. Tu és eu. A outra metade de mim.
A parte de ti que de mim ficou.A parte de mim que foi contigo.
Como foi que constantemente nos encontrámos e nos perdemos?

Manuel Alegre, in A Terceira Rosa

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Faz um ano que me morreste, num dia de maio, e eu achava que se tivesses que morrer não deveria ser na Primavera, amor nenhum devia morrer na Primavera.
A tua morte destruiu-me, deixou-me um vazio, um espaço por preencher que jamais será preenchido. Aprendi a viver de alma amputada e sabes, as palavras dos outros não valem nada: o tempo não ajudou, é uma merda essa história de que o tempo vai ajudar. As saudades não vieram substituir a raiva e a dor, somaram-se apenas. E o nó na garganta continua a sufocar-me todas as lágrimas que desde há um ano ainda não consegui chorar.
A dor não passou. A saudade não passou. Tu nunca me irás passar. Vives (ainda) em mim. Até que eu morra o resto que me falta e o encontre num sítio que a minha fé gostaria de explicar.
 

domingo, 17 de março de 2013

terça-feira, 5 de março de 2013

Como é que tu já te esqueceste?


Era capaz de morrer de amor por ti. Como é que tu já te esqueceste?

Inês Pedrosa, A Instrução dos Amantes

sábado, 2 de março de 2013

Nenhum barco

 
Escrevo
do cais
do porto
em que me exilo

Nenhum barco
parte do teu silêncio

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Rubros poentes


Juntos desenhávamos
poentes de arrepios...

Os teus dedos eram aves
na rota da minha pele
e a tua boca
descia
em abismo
pelos meus flancos...

sábado, 1 de dezembro de 2012

Meu amor de água...

 
Diz-me que não secaram ainda todas as fontes.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

É junto do mar que saro as minhas feridas...

 
É lá que te encontro, sempre que não aguento o peso dos meus dias. Chego com o coração ansioso, como quando ia ter contigo a tua casa, para te amar naquele quarto de paredes verde-água. Sento-me na areia, acendo um cigarro e é então que te vejo... Estás sentado a fumar, o blusão apertado até cima para te proteger a pele do frio e tens o cabelo revolto pelo vento... Ou então caminhas ao longo da água com o teu passo felino e de vez em quando baixas-te e apanhas um beijinho que guardas na mão em concha. Muitas vezes, como hoje, ouço-te cantar... Cantas de olhos fechados e sorris o teu sorriso de sol... E então o teu sorriso de sol é meu ainda. Eu abro os braços e pergunto-te: Sentes? - E tu inspiras fundo o cheiro fortíssimo a algas e a mar, e não me respondes... Ficamos ambos em silêncio, assim só ao pé um do outro, a olhar aquele mar que nos uniu...
Hoje escrevi o teu nome com o meu dedo na areia, dentro de um coração. Deixei-o longe da água, junto das minhas pegadas. Talvez a espuma das ondas não o tenha destruído... Talvez ainda lá esteja, junto do mar onde saro as minhas feridas.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Medir o Amor

 
O meu amor por ti é. Não é mais nem é menos. É. O meu amor por ti é agora. Existe e está aqui comigo e eu não o meço, não lhe tomo o peso, não o comparo. Sinto-o e basta-me.
Posso cansar o meu amor a medi-lo, mas desisto de medir o meu amor por ti. Queria dizer-te o que ele é. O poder que tem. Queria mostrar-te como é, comparado com outros. Mas nada disso é verdade, porque o meu amor por ti não é construção. Não tem tempo, não foi antes e não é depois. E não pode nada a não ser ser. Volto ao início e talvez tente de novo, num dia de sol e de vento, mostrar-te o meu amor por ti. Se o vires, talvez o reconheças, mesmo sem lhe saberes as formas e as medidas, mesmo sem o poderes comparar com nada que tenhas visto antes. Quem sabe tu olhas para ele e o vês como ele é. Ou se calhar nem o reconheces no horizonte, tão estranho se encontra, sem semelhança com que o possas identificar. Mesmo sem lhe dares forma e medida, saberás que ele é?
Eu sei que ele é, porque mesmo quando lhe viro as costas e finjo que não existe, continua lá, o meu amor de água. Tem a qualidade do que existe e mais nada.

sábado, 17 de novembro de 2012

Aqui tão perto...




Mais uma noite, amor. Ao recordar-te
retomo os fins do mundo, a cinza, os dias
manchados de outras lágrimas. Sabias
como eu a cor das sombras, essa arte

que nos engana agora e se reparte
por esquinas e cafés. Já não me guias
os muitos passos vãos, as fantasias
da minha falsa vida. Vou deixar-te

fugindo-me. Na chuva, sem ninguém,
apenas alguns vultos, o que vem
«e dói não sei porquê» - este deserto

onde te vejo, imagem outra vez,
até de madrugada. O que me fez
sentir o muito longe aqui tão perto?
 
Fernando Pinto Do Amaral, "Mais uma noite, Amor" in A Escada de Jacob
 

sábado, 3 de novembro de 2012

Mergulho...

  
Foi há quatro anos, lembras-te meu amor?
 
E hoje. Hoje regresso aqui, à casa dos sonhos que construímos juntos, pedra sobre pedra. Regresso ao meu jardim proibido, abro os portões da memória e fico contigo... Como dantes, adormeço no teu colo, nos teus braços, no teu abraço, e os teus dedos desfiam ternuras nas pontas do meu cabelo, dedilham palavras sem voz que te leio nos gestos... Hoje. Hoje regresso a ti, e não me importa que já não me queiras, porque esta casa ainda prende a tua alma, as tuas palavras, o teu riso e as lágrimas, o desespero e a esperança. Hoje visto o manto de luz de guardiã da saudade e recordo-te. Nada mais quero do que recordar-te, manter viva a memória e os sonhos que ergueram a nossa casa. Eram fortes e ela não ruirá. Uma casa. Nossa. Como nosso foi aquilo a que chamamos amor. Um amor especial e único que se respirava ao segundo, tão forte, tão intenso, enchendo a nossa vida de sol. De sal. De poesia.
Hoje. Regresso à praia da nossa solidão e amo-te outra vez, abraço-te de novo como se o mundo fosse ruir e olho no fundo dos teus olhos. Hoje não tenho medo de te chamar meu, de te beijar a boca até que o corpo, num incêndio devastador, me roube o sono e a serenidade. Colo o meu corpo ao teu e somos um. Outra vez. Leio-te e ouço-te como dantes, danço contigo ao som desta sonata que hoje toca tão forte, tão acima de todos os ruídos do mundo... Hoje amo-te de novo e somos ainda algas ou peixes, rochas robustas erguidas sem medo no mar da vida. Somos oceano. Somos água, como este amor pelo qual lutámos tanto! E sussurro-te ao ouvido um único segredo: os amores de água nunca morrem, não há longe nem distância, tempo, saudade, silêncio ou solidão que os façam secar... Eles apenas se transformam... em nuvem, chuva, rio, regato, ribeiro, mar ou oceano... Muitas vezes também em lágrimas... Mas estão lá, cheios de vida no seu corpo de água.
 
Esta casa, a nossa casa, tem quatro anos... Lembras-te, meu amor?
Dá-me a tua mão, o teu sorriso de sol, e mergulha comigo no sal do oceano profundo que fomos...
E sim, amo-te muito... Sabias?

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Fomos um. E um foi tudo.

Na cama em que os sonhos se fazem, o teu corpo misturado com o meu. Assim se ergue a vida, por detrás do cheiro do sexo molhado, por sobre a verdade dos lábios esfaimados. Agarrar-te na carne e sentir-me de alma, o por dentro de estar vivo a cada segundo de suor. Dou-te com a força de um animal, louco e insaciável animal - com o "toma", o "gostas?", o "pede". E ainda assim te dou com a ternura incomparável de um cúmplice - com o "preciso-te sem igual", o "gosto-te até aos ossos", o "amo-te sem amanhã". Na cama em que os sonhos se fazem, nem os corpos sabem a quem pertencem. Somos dois, com o prazer de todos os mundos. Somos um. E um é tudo.

Pedro Chagas Freitas 

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Suave... em ti

 
E quando me perguntaram o que queria ser na tua vida, eu não respondi... Sabia só que quero ser uma coisa boa, uma coisa doce, uma memória suave que não te magoe...
Posso ser um poema? Posso ser uma música? Posso ser a lua para ti? Posso ser o teu mar?

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Do desencontro


Incendeiam-me ainda os beijos que me não deste
E cegam-se os acenos que me não fizeste
Da janela irreal onde o teu vulto
Era uma alucinação dos meus sentidos.
Mas, decorrida a vida, e oculto
Nestes versos doridos,
A saber que não sabes que te amei
E cantei,
E nem mesmo imaginas quem eu sou
E como é solitária e dói a minha humanidade,
Em vez de te acusar
E me culpar
Maldigo o arbítrio da fatalidade
Que cruelmente nos desencontrou.
 
Miguel Torga, "Absolvição" in Antologia Poética

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Como ouro...

 
Quando o coração dói mais, fujo do mundo e escorrego para dentro de mim... Vou até um tempo que brilha como ouro no fundo da minha memória... Lembras-te? Eu ia ter contigo ao fim da tarde com o coração descompassado e o corpo a tremer muito... Tu fechavas a porta à chave, mudavas a disposição das luzes e abraçavamo-nos com a certeza infinita de tudo estar certo naquele momento... Era ali, a horas tardias, que no teu colo, no teu abraço, no pulsar do teu coração contra o meu, todas as dores se apaziguavam... Era a certeza de te amar contra o mundo. Era a certeza de te chamar meu. E tu sorrias, e passavas os dedos pelo meu cabelo e falavas em parar o tempo...
Sim, quando o coração dói mais, regresso a esse tempo parado, perdido algures dentro de mim, que se vai confundindo já com um sonho irreal... Tenho medo de perder as memórias... Tenho medo de esquecer o teu cheiro, o tom da tua voz, o som do teu riso alegre... Por isso, quando o coração dói mais, quando a solidão é insuportável e a saudade me rasga o peito, mesmo sem entender porquê, o teimoso do meu coração regressa a esse tempo parado e apazigua-se... A dor acalma finalmente e cheio de doçura, uma doçura que é toda para ti, ele teima em escrever cartas de amor. E são todas para ti.
Como esta.