Uma vez uma leitora perguntou-me se o nosso amor era proibido. Eu não lhe respondi. Não porque não o quisesse fazer, mas apenas porque não sabia o que lhe dizer. Hoje sei responder a essa nossa leitora do outro lado do oceano, hoje sei dizer-lhe que o nosso amor era proibido sim, pelos homens... Mas não por Deus. Deus não proibe o amor, seja qual for a sua face. O nosso amor era proibido pelos homens e por nós próprios. Sempre lutámos contra ele, sempre tentámos fugir, esquecer, correr para longe, onde ele não nos alcançasse... E sem o sabermos, ele ia connosco, dentro do peito. Vivia em nós, no respirar, no sangue e no coração que pulsava a cada segundo. Vivia nos sonhos, nos pensamentos, de dia e de noite, de perto e de longe. Era um amor imortal. Nós chamavamos-lhe feitiço. Vezes sem conta o negámos, vezes sem conta ele regressava, persistia, mais forte do que antes, mais grandioso e único. Mais sofrido. Mais doído. Planos foram feitos, sonhos foram acarinhados, mil momentos maravilhosos e inesquecíveis foram vividos... E agora a palavra Adeus foi dita. Foi repetida. Friamente, conscientemente. Reúno coragem para ta dizer, eu também... Sinto que devo dizê-la... para que este amor seja para sempre a coisa mais linda que me aconteceu e para que daqui em diante, ao evocar-te, eu o faça com um sorriso... e sem dor. Mas... como se diz Adeus a uma pessoa que nos vive dentro do peito? Como se esquece? Diz-me: Como?
Esta noite não serenei. Recordei tudo o que fomos, tudo o que somos, tudo o que existe em mim... E é como a nossa leitora me disse, é um amor bonito que atravessa as palavras deste espaço, uma música que não conseguimos deixar de entoar baixinho porque toca dentro de nós, na alma, no sítio mais difícil de alcançar... E no entanto, tenho que abandonar tudo isto, dizer eu também a palavra que já foi proferida. Vou tentar dizer-ta, prometo que vou tentar. Vou tentar dizer-te Adeus e essa palavra será a chave que fechará para sempre esta porta de uma casa que foi nossa... só nossa. No meu peito só guardarei as coisas boas, todas as coisas boas que tu me deste e que eu cuidarei para sempre. É tempo de deixar-te ir, seguires o teu caminho e a tua vida onde mereces ser muito feliz. É tempo de calar o egoísmo e de não correr atrás de ti. No dia em que te disser Adeus, um pedaço de mim morrerá. Porque tu vives em mim, dentro de mim, e arrancar-te do meu peito será à custa de dor e de lágrimas... mas serás a minha memória eterna, o meu segredo mais bonito e doído... Amei-te tudo o que sabia, acreditas? No meu mundinho absurdo, na minha vidinha pequena, como lhe chamavas, foste o centro, sempre! Não foi suficiente... Desculpa, não soube amar-te melhor... E tu merecias.
Dir-te-ei Adeus, sim, quando aprender a fazê-lo. E essa será a última palavra que me ouvirás dizer. Mas será mentira.