quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Encerrado


Este espaço foi o meu segredo mais bonito. Foi a única casa possível, quando no mundo inteiro não havia outro abrigo... Era um local sagrado, onde nada me poderia atingir e onde nunca houve censura para as palavras. Muitas vezes escritas por impulso, elas foram ponte e barco e cais, partida e chegada, estranha dança solitária ao som de uma sonata tocada a duas mãos. As tuas. E as minhas. As nossas mãos. O nosso segredo, num mundo onde nunca houve lugar para nós.
Hoje fecho as portas do meu segredo mais belo e deixo-o na escuridão e no silêncio... Comigo levo todas as palavras e o que resta do meu coração. 

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Fomos quase milagre


E naquela noite os meus olhos pediam-te Resgata-me, resgata-me de mim, salva-me desta vida, deste corpo, arranca-me deste lugar onde eu estou e onde não quero ficar... Porque só tu o podias fazer, só tu o sabias fazer. Os meus olhos pediam-te ternura enroscada na curva do pescoço, as tuas mãos quentes amando-me com ternura as costas desfeitas... E os meus olhos diziam-te Só tu és o meu cais, abrigo, ninho, colo, só tu és a água que me mantém viva, o sol que me ilumina e dá força e coragem, me faz ser árvore forte que nenhum relâmpago rasgará... Naquela noite quis derrubar o tempo, muralha da China que me separava de ti, grade imensa da prisão dos dias, quis encontrar-te num lugar onde só se encontra quem se pertence, acredito que nesse milagre de ser para sempre... Cheguei até ti sem corpo, vazia de pele e de desejo, perdido algures, entre as horas que não dormi e o tempo em que me desgastei... Era apenas barco naufragado, ave de asas feridas a pedir-te o vento da bonança na bandeira da paz...
E tu chamaste-lhe desamor.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Feliz/Triste Natal


Acabei de receber o meu presente de Natal. Aliás, um presente que não me é estranho. Tantas foram as vezes, ao longo deste ano, que me fizeram questão de entregar ou deixar à soleira da porta, que é como quem diz via e-mail ou sms. O presente de que falo, sem embrulho ou ornamentação, tem lá dentro DISTÂNCIA, AUSÊNCIA e SEPARAÇÃO. Não tinhas o direito de mo entregar de novo. Prometeste que não o farias. Não desta forma. Não nesta altura do ano. Não, outra vez... Mas voltaste a deixar à minha porta. Quando o que eu mais queria era só te ter bem perto de mim...
Por isso saio uma vez mais. Porque chega de ser escorraçado. Lembra-te do cão perdido do teu post no outro espaço. Lembra-te e não mais te esqueças...