domingo, 27 de junho de 2010

Debaixo da pele II


A noite sai devagar e pela janela espreito as primeiras luzes deste novo dia. O trabalho está quase. Mas apetece-me escrever. Para ti. O cigarro está aceso. A cada trago penso em nós. Na pele as marcas de ontem. No olhar o reflexo de ti. E no pensamento a conversa de hoje. Falei-te em eclipse, lembras-te? O que temos, quando estamos juntos e os Deuses distraídos, equipara-se a um eclipse, pela magia e beleza que emana. A conversão de dois corpos, duas almas, dois corações num só. E tudo pára...
Mas nós somos mais que apenas um eclipse. Tens razão, somos duas metades de um só coração. Às vezes partido por fora, mas unido por dentro. E quando soa aquele quase inaudível click, de duas peças que se juntam numa só, é como se não existisse mais nada. Só este Amor que nos preenche e tantas vezes nos abalroa. Mas que subsiste a tudo. Imponente como só ele sabe ser. Pouco preocupado com a razão. Ou com medo do mundo.
Só existe espaço para as palavras sagradas, como a que gosto de te dizer: "Amo-te!"

Debaixo da pele


Não são só as roupas que despimos quando estamos juntos. Despimos também a pele com palavras, olhares, gestos e sorrisos, desnudamos tudo o que nos esconde e revelamos o sangue... Junto de ti, eu sinto sempre o mesmo: um amor despido de máscaras, um amor que me descobre a carne e dentro de mim, navega pelo mar do meu sangue.
E é assim o nosso amor: Tu, dentro de mim. Tu, pulsando-me no peito, ecoando no bater do meu coração... Tu, numa maravilhosa viagem, correndo-me dentro das veias como um rio... Tu, desaguando no porto de abrigo do meu coração.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

(Silêncio Fúnebre)

Não adormeças de mim...


Não adormeças já. Eu sinto frio e há sombras escuras com dedos que me agarram como fantasmas... A luz é fraca e treme e eu tenho medo. Conta-me uma história, diz-me outra vez da tua infância, da praia onde apanhavas beijinhos, do teu avô e do barco onde sentiste medo de naufragar... Ou fala-me da tua mãe. Gosto de te ouvir falar dela, ficas com a voz muito suave e com o olhar muito doce... Não adormeças. Não apagues as luzes porque ainda não consigo dormir... Sinto aquela dor estranha de que me queixo às vezes, sabes, aquela no peito... que me obriga a inspirar fundo... Não adormeças já... Tenho as mãos geladas e ardem-me os olhos de tanta leitura... Quero fechá-los só um pouquinho e deitar a cabeça no teu peito... Quero ouvir o bater do teu coração misturado com a tua voz e com as histórias que me dirás... Juro que não te atrapalho, fico aqui quieta e em silêncio se prometeres que não adormeces já, que não adormeces antes de mim. Se apenas me olhares de longe e me abraçares até que o cansaço me deixe adormecer...

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Amar-te assim


E é quando cuidadosamente me seguras a cabeça e a pousas no teu peito, que tenho a certeza. É assim que tudo deve ser. O medo ronda o coração mas não ousa entrar. E enquanto me apertares contra ti, asseguras a continuidade das estações. E cada alvorada e cada crepúsculo. Enquanto os teus braços me segurarem manter-se-á a constância das ondas ao longo da costa e os rios correrão para o mar. Como sempre têm feito. As ervas e os troncos continuarão a rasgar a terra e a lua guiará os que se perdem nas noites de solidão. Porque só assim as coisas fazem sentido. Mesmo quando parece que não.

Dentro do teu olhar


Despes-me com as palavras que guardas por detrás dos teus olhos. Ecoam insinuantes no rasto húmido de um beijo ou num toque de mãos demorado, que deixam velas acesas pelo meu corpo quando te vais. Não preciso de ouvir a tua boca para as saber porque elas dançam no teu olhar... E por isso, não me canso de olhar para ti, de entrar para dentro dos teus olhos... Falamos sempre tanto. Tanto, sem nada precisarmos de dizer.

Tu...


Enquanto trocávamos confidências, parte da minha atenção se virou para a música que tocava, "One Moment In Time", da Whitney Houston. E, num impulso, soltei um sorriso feliz. Como são felizes os momentos que partilhamos. Como pegadas únicas que deixamos na areia, que se confundem com o cheiro do sargaço, das gaivotas que se banham ao sol, do azul do mar, ou dos beijinhos que teimosamente procuras junto a cada grão de areia. Muitas vezes, faço de conta que não olho para ti. Mas pelo canto do olho, fico a observar-te. A forma meticulosa como buscas aquele sorriso escondido na areia da praia, ou a alegria que te invade o olhar quando finalmente encontras o tesouro tão desejado. Não te digo, mas o meu tesouro está nessa mesma praia, ao alcance de uma mão, de um beijo ou de um carinho. Às vezes não te digo que o meu tesouro mais precioso és tu...
E nenhuma praia será especial se não estiveres comigo. Como da mesma forma a minha vida não faz sentido sem ti ao meu lado... comigo... em mim... tocando esta sonata a duas mãos...
Também te amo muito... sabias minha pequenina?!

quarta-feira, 16 de junho de 2010

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Eterno


- É verdade que os amores eternos nunca morrem?
- É verdade, sim. Ou não seriam eternos.
- Mesmo que a pessoa esteja longe de você?
- Mesmo assim.
- E como sabemos que aquele amor é eterno?
- Não sabemos. Até um dia.
- O dia em que ele vai embora?
- É. O dia em que ele vai embora, mas nunca parte.

Mário Quintana

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Tu, meu Amor...


Eu sei. Atravessas o rio dourado da memória dos últimos instantes felizes que vivemos. Alma atormentada e pulso firme, segues constante na velocidade da ausência. Tens o meu cheiro e a minha voz. O meu sabor. O toque das minhas mãos no teu peito. Tudo tens. Menos a certeza. Queima-te essa loucura que não te deixa agarrar serenidades. Porque o teu amor, meu Amor, é e será sempre intenso. Violento como o caudal de um rio que não se controla. Pouco compadecido de agendas, relógios e quotidianidades. O teu amor arde. E explode. E revolve-te a carne com a força de mil arados a rasgar hectares de sonhos. Cheio de fúria, não o consegues direccionar e ele contém-se com dor, agonizando na barragem do teu corpo. E serás sempre apenas tu. Incapaz de tranquilidades.

Eu sei. Não consigo fazer-te feliz.

Eu sei, meu Amor.