sábado, 1 de dezembro de 2012

Meu amor de água...

 
Diz-me que não secaram ainda todas as fontes.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

É junto do mar que saro as minhas feridas...

 
É lá que te encontro, sempre que não aguento o peso dos meus dias. Chego com o coração ansioso, como quando ia ter contigo a tua casa, para te amar naquele quarto de paredes verde-água. Sento-me na areia, acendo um cigarro e é então que te vejo... Estás sentado a fumar, o blusão apertado até cima para te proteger a pele do frio e tens o cabelo revolto pelo vento... Ou então caminhas ao longo da água com o teu passo felino e de vez em quando baixas-te e apanhas um beijinho que guardas na mão em concha. Muitas vezes, como hoje, ouço-te cantar... Cantas de olhos fechados e sorris o teu sorriso de sol... E então o teu sorriso de sol é meu ainda. Eu abro os braços e pergunto-te: Sentes? - E tu inspiras fundo o cheiro fortíssimo a algas e a mar, e não me respondes... Ficamos ambos em silêncio, assim só ao pé um do outro, a olhar aquele mar que nos uniu...
Hoje escrevi o teu nome com o meu dedo na areia, dentro de um coração. Deixei-o longe da água, junto das minhas pegadas. Talvez a espuma das ondas não o tenha destruído... Talvez ainda lá esteja, junto do mar onde saro as minhas feridas.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Medir o Amor

 
O meu amor por ti é. Não é mais nem é menos. É. O meu amor por ti é agora. Existe e está aqui comigo e eu não o meço, não lhe tomo o peso, não o comparo. Sinto-o e basta-me.
Posso cansar o meu amor a medi-lo, mas desisto de medir o meu amor por ti. Queria dizer-te o que ele é. O poder que tem. Queria mostrar-te como é, comparado com outros. Mas nada disso é verdade, porque o meu amor por ti não é construção. Não tem tempo, não foi antes e não é depois. E não pode nada a não ser ser. Volto ao início e talvez tente de novo, num dia de sol e de vento, mostrar-te o meu amor por ti. Se o vires, talvez o reconheças, mesmo sem lhe saberes as formas e as medidas, mesmo sem o poderes comparar com nada que tenhas visto antes. Quem sabe tu olhas para ele e o vês como ele é. Ou se calhar nem o reconheces no horizonte, tão estranho se encontra, sem semelhança com que o possas identificar. Mesmo sem lhe dares forma e medida, saberás que ele é?
Eu sei que ele é, porque mesmo quando lhe viro as costas e finjo que não existe, continua lá, o meu amor de água. Tem a qualidade do que existe e mais nada.

sábado, 17 de novembro de 2012

Aqui tão perto...




Mais uma noite, amor. Ao recordar-te
retomo os fins do mundo, a cinza, os dias
manchados de outras lágrimas. Sabias
como eu a cor das sombras, essa arte

que nos engana agora e se reparte
por esquinas e cafés. Já não me guias
os muitos passos vãos, as fantasias
da minha falsa vida. Vou deixar-te

fugindo-me. Na chuva, sem ninguém,
apenas alguns vultos, o que vem
«e dói não sei porquê» - este deserto

onde te vejo, imagem outra vez,
até de madrugada. O que me fez
sentir o muito longe aqui tão perto?
 
Fernando Pinto Do Amaral, "Mais uma noite, Amor" in A Escada de Jacob
 

sábado, 3 de novembro de 2012

Mergulho...

  
Foi há quatro anos, lembras-te meu amor?
 
E hoje. Hoje regresso aqui, à casa dos sonhos que construímos juntos, pedra sobre pedra. Regresso ao meu jardim proibido, abro os portões da memória e fico contigo... Como dantes, adormeço no teu colo, nos teus braços, no teu abraço, e os teus dedos desfiam ternuras nas pontas do meu cabelo, dedilham palavras sem voz que te leio nos gestos... Hoje. Hoje regresso a ti, e não me importa que já não me queiras, porque esta casa ainda prende a tua alma, as tuas palavras, o teu riso e as lágrimas, o desespero e a esperança. Hoje visto o manto de luz de guardiã da saudade e recordo-te. Nada mais quero do que recordar-te, manter viva a memória e os sonhos que ergueram a nossa casa. Eram fortes e ela não ruirá. Uma casa. Nossa. Como nosso foi aquilo a que chamamos amor. Um amor especial e único que se respirava ao segundo, tão forte, tão intenso, enchendo a nossa vida de sol. De sal. De poesia.
Hoje. Regresso à praia da nossa solidão e amo-te outra vez, abraço-te de novo como se o mundo fosse ruir e olho no fundo dos teus olhos. Hoje não tenho medo de te chamar meu, de te beijar a boca até que o corpo, num incêndio devastador, me roube o sono e a serenidade. Colo o meu corpo ao teu e somos um. Outra vez. Leio-te e ouço-te como dantes, danço contigo ao som desta sonata que hoje toca tão forte, tão acima de todos os ruídos do mundo... Hoje amo-te de novo e somos ainda algas ou peixes, rochas robustas erguidas sem medo no mar da vida. Somos oceano. Somos água, como este amor pelo qual lutámos tanto! E sussurro-te ao ouvido um único segredo: os amores de água nunca morrem, não há longe nem distância, tempo, saudade, silêncio ou solidão que os façam secar... Eles apenas se transformam... em nuvem, chuva, rio, regato, ribeiro, mar ou oceano... Muitas vezes também em lágrimas... Mas estão lá, cheios de vida no seu corpo de água.
 
Esta casa, a nossa casa, tem quatro anos... Lembras-te, meu amor?
Dá-me a tua mão, o teu sorriso de sol, e mergulha comigo no sal do oceano profundo que fomos...
E sim, amo-te muito... Sabias?

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Fomos um. E um foi tudo.

Na cama em que os sonhos se fazem, o teu corpo misturado com o meu. Assim se ergue a vida, por detrás do cheiro do sexo molhado, por sobre a verdade dos lábios esfaimados. Agarrar-te na carne e sentir-me de alma, o por dentro de estar vivo a cada segundo de suor. Dou-te com a força de um animal, louco e insaciável animal - com o "toma", o "gostas?", o "pede". E ainda assim te dou com a ternura incomparável de um cúmplice - com o "preciso-te sem igual", o "gosto-te até aos ossos", o "amo-te sem amanhã". Na cama em que os sonhos se fazem, nem os corpos sabem a quem pertencem. Somos dois, com o prazer de todos os mundos. Somos um. E um é tudo.

Pedro Chagas Freitas 

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Suave... em ti

 
E quando me perguntaram o que queria ser na tua vida, eu não respondi... Sabia só que quero ser uma coisa boa, uma coisa doce, uma memória suave que não te magoe...
Posso ser um poema? Posso ser uma música? Posso ser a lua para ti? Posso ser o teu mar?

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Do desencontro


Incendeiam-me ainda os beijos que me não deste
E cegam-se os acenos que me não fizeste
Da janela irreal onde o teu vulto
Era uma alucinação dos meus sentidos.
Mas, decorrida a vida, e oculto
Nestes versos doridos,
A saber que não sabes que te amei
E cantei,
E nem mesmo imaginas quem eu sou
E como é solitária e dói a minha humanidade,
Em vez de te acusar
E me culpar
Maldigo o arbítrio da fatalidade
Que cruelmente nos desencontrou.
 
Miguel Torga, "Absolvição" in Antologia Poética

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Como ouro...

 
Quando o coração dói mais, fujo do mundo e escorrego para dentro de mim... Vou até um tempo que brilha como ouro no fundo da minha memória... Lembras-te? Eu ia ter contigo ao fim da tarde com o coração descompassado e o corpo a tremer muito... Tu fechavas a porta à chave, mudavas a disposição das luzes e abraçavamo-nos com a certeza infinita de tudo estar certo naquele momento... Era ali, a horas tardias, que no teu colo, no teu abraço, no pulsar do teu coração contra o meu, todas as dores se apaziguavam... Era a certeza de te amar contra o mundo. Era a certeza de te chamar meu. E tu sorrias, e passavas os dedos pelo meu cabelo e falavas em parar o tempo...
Sim, quando o coração dói mais, regresso a esse tempo parado, perdido algures dentro de mim, que se vai confundindo já com um sonho irreal... Tenho medo de perder as memórias... Tenho medo de esquecer o teu cheiro, o tom da tua voz, o som do teu riso alegre... Por isso, quando o coração dói mais, quando a solidão é insuportável e a saudade me rasga o peito, mesmo sem entender porquê, o teimoso do meu coração regressa a esse tempo parado e apazigua-se... A dor acalma finalmente e cheio de doçura, uma doçura que é toda para ti, ele teima em escrever cartas de amor. E são todas para ti.
Como esta.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

As palavras que sempre te direi

 
Podemos morrer se apenas amámos. - Bernardo Soares

Tão simples, como são as coisas certas - Amor é quando  queremos que a outra pessoa seja feliz, independentemente de estar ou não connosco.
É verdade. O amor é isso mesmo. É querer toda a felicidade do mundo para o nosso amor, mesmo que não seja possível partilhá-la com ele. Amor não é "e agora que já não estás comigo, quero que ardas no inferno.", como tantas vezes acontece.
Amei. Sei, porque passam os dias, os meses, os anos, passam os homens e, no entanto, ele permanece. Não se trata de uma escolha. Não faço para que isso aconteça, ou que não aconteça. É assim. Simplesmente. Também não sou masoquista ou mártir. Isso não me impedirá de amar outras pessoas. E mesmo voltando a amar com a mesma intensidade, isso não apagará nunca este amor. Amei esse homem, amo-o e amá-lo-ei para o resto da minha vida. Sei isso, como sei que respirarei até ao dia em que morrer. Não é uma tragédia. Pelo contrário. O amor é eterno e infinito. É com ele que continuo a aprender isso todos os dias.
Outros passaram pela minha vida. Mais alguns passarão, certamente. Uns são-me agora indiferentes. Pouco me importa se serão felizes ou não. A outros desejo-lhes que alguém brinque com a sua vida exatamente como brincaram com a minha, quando por ela passaram. Porque me magoaram. Porque não os amei, é simples. Nem eles a mim. Que a roda da vida lhes dê o que merecem. Também eu terei magoado quem não amei. E a vida já se encarregou ou encarregará de mo relembrar.
Ao meu amor, porém, desejo-lhe tudo de bom que a vida lhe puder oferecer. Ao meu amor desejo-lhe outro amor, a felicidade e a alegria, a abundância, a paz, a serenidade, a excitação, o melhor da vida. Mesmo que não comigo. Sei que também ele me deseja igual. E sei que o nosso desejo é irreal, utópico, ingénuo. Porque a vida é sofrimento, com lampejos de felicidade. E sei que quando ambos nos tivemos tão próximos, fomos demasiado loucos para entender a raridade do que possuíamos. Desperdiçamos o nosso amor. Julgavamos que iria acontecer mais vezes, poucas talvez, mas algumas. Depois amadurecemos e percebemos que não. Que fomos uns felizardos. Que tivemos aquilo que muita gente procura por vezes uma vida inteira, sem nunca o encontrar. E que se acontecer de novo, é uma sorte, uma benção preciosa.
Por isso, meu amor, estas são as palavras que sempre te direi, quer as leias ou não, quer as ouças ou não. Que te amei, que te amo, que te amarei, haja o que houver. Que sempre me deste tudo o que pudeste e sabias. Que eu sempre te dei tudo o que pude e sabia.  Que quanto mais vida passa por mim, mais certeza tenho disto. Que não me esqueço do que via sempre que mergulhava nos teus olhos - o amor. Que o meu coração transborda ainda com esse amor. Que te desejo toda a felicidade do mundo.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Foi por ti

 
Foi por ti. Hoje sei que foi só por ti.
Por ti nasci, morri e inventei-me vezes sem conta... Por ti atravessei mares e travei rios, desci abismos e subi a pulso montanhas escarpadas que me rasgaram as mãos, por ti tive medo e fui forte, caí e levantei-me, lambi feridas e sequei lágrimas... Por ti inventei nomes que não tinha e construí casas que fossem ninhos onde pudessemos amar-nos... Por ti acreditei e sonhei, inventei o tempo, ergui pontes e derrubei muros que nos separavam... Por ti recomecei, do princípio, todas as vezes... Por ti fui feliz, fui onda e sereia, ave e árvore, sangue, suor, seiva e fruto... Por ti fiz juras e cumpri-as. Por ti perdoei e esqueci. Por ti engoli a solidão e as noites sem dormir, quando no escuro o teu nome teimava nos meus lábios... Por ti fiz-me planície, fui mansidão, e fui chuva revolta em madrugadas de tempestade... Por ti lutei às cegas, como uma mariposa perdida... Por ti fui tudo e fui nada... Por ti, só por ti, fui tudo o que podia ser... E por ti eu fui feliz, fui riso e alegria, fui música e sonata... Fui água, lua, noite e praia...
 
Por isso..., agora não sei de mim... Procuro-me e não me encontro... Agora não sei quem sou...
Porque tudo o que aconteceu em mim, foi por ti. 

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Para ti criarei um dia puro


Quero oferecer-te um dia puro. Um dia em que os dois possamos abrir os olhos e olhar para o outro com os nossos sentimentos acabados de nascer. Sem mácula, sem receios, só os nossos olhos suspensos um no outro e sem o passado que frustrámos, o futuro que desconhecemos. O momento da criação, repetido no teu dia puro.

Antes de nos termos magoado. Antes de nos termos mentido. Antes de termos desviado os olhos pela primeira vez, por não aguentarmos a verdade nos olhos do outro. Os dois, de cabeça erguida, no momento primeiro de nós, os outros excluídos, as ausências de fora, o telefone que não tocou esquecido, todas as palavras que dissemos a mais, todos os silêncios com que nos agredimos, de fora.

Quero oferecer-te um dia puro. Sem a primeira vez em que gritámos palavras de ódio, sem a primeira vez em que calámos palavras de amor. Todas as dores, todas as nódoas negras, todas as marcas, as cicatrizes fora do nosso dia puro. Sem as rugas que marcam a pele, sem o peso do mal que nos fizemos. Tudo jovem, fresco, novo e cheio de potência.

Eis o teu dia puro, o momento da criação. O momento em que dentro de nós tudo se encolheu e expandiu por reconhecer o outro. O momento que a minha pele e a tua deixaram de conhecer fronteiras e o território comum que era nosso foi marcado apenas pelo espaço dos outros. O momento em que não precisámos de palavras, de justificações, de desculpas. Confiança no que nascia, na força do que crescia, sem espaço para dúvidas nem para inseguranças – é esse o momento a que volto para te criar um dia puro.

E talvez ele não seja real. Talvez nunca mais tenhamos um dia puro. Porque não seríamos tu e eu e o que vivemos e destruímos e criámos, já não puro, já consertado, mas ainda assim cheio da vitalidade do que se transforma. Podemos viver o dia puro que te quero oferecer, mas sabemos que é uma criação, porque esse dia nunca mais. Nós não somos os mesmos e deixar o que fizemos de fora do nosso dia puro é tentar a pureza aos pedaços.

Podemos viver o dia que temos, sabendo que foi consertado. Que não é perfeito, mas é inteiro, tu e eu, as nossas fraquezas e as nossas glórias, as nossas lágrimas e as nossas gargalhadas, as palavras que dissemos e as que calámos. E desisto de te criar um dia puro. Para ti criarei um dia inteiro.

sábado, 4 de agosto de 2012

Sem saída, sem retorno



Eu que sei de cor os mapas desenhados no teu corpo,
que conheço cada rio, cada montanha, cada planície,
que fui até ao fundo mais profundo dos teus mares,
não sabia, porém, que há um caminho sem saída
dentro dos teus olhos. Um caminho sem retorno.

Eu que fiz de ti o meu mundo
e ousei querer-te inteiro,
cada lugar, cada contorno.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Não me perguntes


Pergunta-me o sol ou o mar ou as searas douradas,
pergunta-me a noite, a lua ou as claras madrugadas,
podes até perguntar-me o mundo, as paisagens,
os refúgios das andorinhas nas suas longas viagens,
posso responder-te a tudo, meu amor,
mas não me perguntes porque morrem todas as coisas
e tu pulsas sempre e mais no meu coração, com fervor,
és inexplicável vida, explodindo em mim com a força
da mais pura alegria, da mais profunda dor.

sábado, 14 de julho de 2012

Sabes...


Eu sentia uma sensação estranha, funda e doída, quando tinha de ir embora. E devia ter tido coragem para dizer-te, de todas as vezes: Sabes, não só vou sentir saudades de ti, minha vida, mas vou sentir saudades de ser quem sou, aqui e agora, porque não vou ser assim nunca mais, com mais ninguém.
E devia ter-te dito isto. De todas as vezes.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Água


De novo o meu corpo dentro de água. Uma janela. Por ela chega-me uma nesga de céu de um azul em desmaio. Cruza-o, obsessivamente, um pássaro que se repete em voos solitários.
O meu corpo dentro de água. Hoje afasto de mim os teus olhos. Hoje não me importa que cor têm os teus olhos. Os meus dedos esqueceram a música da tua pele. E o meu corpo, que se move dentro de água, guarda apenas a memória morna do útero.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Soneto da separação



De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.


Vinícius de Moraes, Soneto da separação

terça-feira, 19 de junho de 2012

Vai passar


Aperto-me contra o teu peito
beijo-te os olhos fechados
os meus dedos enterram-se no teu cabelo
para que me resgates dos abismos
para que na âncora do teu corpo
me digas que vai passar
esta dor vai passar...

segunda-feira, 18 de junho de 2012

O naufrágio do Amor


O meu amor morreu há dois dias. Parece que passou uma eternidade desde esse momento em que eu o estreitei nos meus braços num abraço apertado e o sufoquei até à morte... Mas foram só dois dias, dois infinitos, magoados e dolorosos dias. Desde então sou só feridas e sangue. Desde então não dormi ainda, vagueio pelas sombras durante a noite, procuro respostas no silêncio e na escuridão, falo muito pouco e assusto-me se falam comigo. Já desejei fugir, entrar no carro e andar sem rumo e sem destino, até que o cansaço me faça parar... Já desejei gritar a plenos pulmões, contra a noite, contra a chuva, contra este frio que me invade e me corrói... O meu amor morreu e eu não sinto fome, não sinto sede. Como se eu própria, com ele, tivesse morrido também. Por dentro de mim vive a dor e o silêncio. Não há mais nada... Não há revolta. Nunca haverá. Percebo agora que talvez eu soubesse que este momento aconteceria, roubei o fogo aos deuses e eles são implacáveis no castigo. Amei o que não me pertencia, quem nunca me pertenceu, e é chegado o momento de pagar essa ousadia.
O meu amor morreu há dois dias. Matei-o fora de mim, desatei todos os laços que nos uniam, destruí todos os nós que nos atavam. Mas não era fora de mim que ele estava... É no avesso do meu corpo que ele existe, por debaixo da pele, corre-me dentro das veias, tem raízes nos lugares do coração. Confunde-se com o meu corpo, com a minha alma, a ponto de não saber onde eu começo e onde ele termina. Matei-o fora de mim e agora tenho que esperar que o tempo o mate cá dentro, naquilo que eu sou... naquilo que restou de mim.
Este espaço não morre hoje, não morrerá nunca. Está cheio da voz dele e da minha, de emoções que quero acreditar que foram verdadeiras... Neste espaço farei o meu luto, o meu infinito luto... E viverei de memórias porque elas também alimentam a alma, sobretudo se forem memórias de um amor feliz. E eu vivi um amor feliz, muito feliz! Aqui me reequilibrarei, aqui recordarei e darei vida ao maior sonho que me atrevi a sonhar. Um sonho que sonhei durante cinco anos e que não quero manchar com revolta nem com ódio. O meu amor morreu, naufragou no mar que nos abraçou sempre, que nos testemunhou e acolheu tantas vezes... Será assim, num mar de saudade, que o manterei vivo por dentro de mim. Porque ele me fez feliz e me fez acreditar... Porque ele foi o meu amor, o meu sorriso de sol, a minha vida. Porque foi um privilégio conhecê-lo entre tantos milhões de pessoas neste mundo... E porque podem naufragar todos os amores, mas não morrerão jamais os sentimentos mais nobres que a alma humana se atreve a viver. É assim que eu o amo. Será assim, até que deixe de o amar.

domingo, 27 de maio de 2012

Ninguém me separará de ti


A memória de ti calma e antiga
Habita os meus caminhos solitários
Enquanto o acaso vão me oferece os vários
Rostos da hora inimiga

Nem terror nem lágrimas nem tempo
Me separarão de ti
Que moras para além do vento.


Sophia de Mello Breyner Andresen, in Mar Novo

terça-feira, 1 de maio de 2012

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Sim, quero-te...


Às vezes, como hoje, a felicidade tão certa com o mundo, tão certa com a vida, tão certa com o bater dos nossos corações...

sábado, 7 de abril de 2012

Páscoa Feliz!


Abraço-te aqui... e desejo-te uma Páscoa feliz.
Onde quer que estejas.

terça-feira, 27 de março de 2012

Quando voltas?


Uma casa vazia pode ser uma coisa tão triste...

sábado, 17 de março de 2012

Inteiro


Não há metades,
no amor não há metades.
Dou-te o meu coração inteiro, na tua mão.
E sei que um cerrar de punho o esmagará.
Mas confio.
Sei que no dia em que o não queiras
o devolverás a mim. 
E então mirrará no meu peito,
seco da falta de ti.
Mas inteiro.
Que os corações não se dividem.
Só batem e vivem e morrem.
No peito ou na mão de alguém.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Pura magia


E é sempre a mesma magia, regressar a ti... Reconhecer-te, na pele e no cheiro, saborear-te e sentir-te de olhos fechados e encontrar de todas as vezes muito nítido dentro de mim, como um sol enorme, este amor de água que não entendo, este reconhecimento imediato, esta completude de almas e corpos, que é pura magia...

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Amor


Hoje celebra-se o amor. Mas é só mais um dia, um dia igual a tantos outros dias. Todos diferentes. Cheios de alegrias, incertezas, medos. Ter o coração cheio... mas sempre perigosamente à beira do abismo. Ter-te e não te ter. Solidão e silêncio. Porque o Amor é isso. É isso tudo. Dói. E também é sangue e vida e água e magia.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Nós


Pode este amor não estar certo com as horas, os dias e as noites... Pode não estar certo nos encontros no equilíbrio do tempo e do relógio... Pode até não estar certo no julgamento dos homens. Mas este amor está certo no bater dos corações. E esse é um lugar sagrado.
Deixo-te um beijo sentido, minha vida.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Do vazio


Já nem aqui te encontro. Já não sou capaz de te sentir aqui...
E não tenho mais lugar nenhum onde me abrigar.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Amo-te... Tudo.


Há tanto que não to digo... Há tanto tempo que não o ouço... E nem sei qual me faz mais falta, qual me dói mais.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Um dia...


Um dia, quando a ternura for a única regra da manhã, acordarei entre os teus braços, a tua pele será talvez demasiado bela e a luz compreenderá a impossível compreensão do amor. Um dia, quando a chuva secar na memória, quando o Inverno for tão distante, quando o frio responder devagar com a voz arrastada de um velho, estarei contigo e cantarão pássaros no parapeito da nossa janela, sim, cantarão pássaros, haverá flores, mas nada disso será culpa minha, porque eu acordarei nos teus braços e não direi nem uma palavra, nem o princípio de uma palavra, para não estragar a perfeição da felicidade.

José Luís Peixoto

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Fronteiras de nós


De quem as mãos
trocadas minhas tuas
entrelaçadas nuas
dadas.

Onde é que eu já não sou
e tu já és?
Que fronteira de nós?

Não se explica no gesto nem na voz
o ponto onde eu começo e tu acabas.

Rosa Lobato de Faria, Poemas Escolhidos e Dispersos

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

O Amor é um lugar estranho


You know that place between sleep and awake, the place where you can still remember dreaming? That's where I'll always love you. That's where I'll be waiting.