E naquela noite os meus olhos pediam-te Resgata-me, resgata-me de mim, salva-me desta vida, deste corpo, arranca-me deste lugar onde eu estou e onde não quero ficar... Porque só tu o podias fazer, só tu o sabias fazer. Os meus olhos pediam-te ternura enroscada na curva do pescoço, as tuas mãos quentes amando-me com ternura as costas desfeitas... E os meus olhos diziam-te Só tu és o meu cais, abrigo, ninho, colo, só tu és a água que me mantém viva, o sol que me ilumina e dá força e coragem, me faz ser árvore forte que nenhum relâmpago rasgará... Naquela noite quis derrubar o tempo, muralha da China que me separava de ti, grade imensa da prisão dos dias, quis encontrar-te num lugar onde só se encontra quem se pertence, acredito que nesse milagre de ser para sempre... Cheguei até ti sem corpo, vazia de pele e de desejo, perdido algures, entre as horas que não dormi e o tempo em que me desgastei... Era apenas barco naufragado, ave de asas feridas a pedir-te o vento da bonança na bandeira da paz...
E tu chamaste-lhe desamor.
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