quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

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Posso morar em várias casas, possuir vários cantinhos, mas existe uma só morada. Aquela onde quero estar. Faz um ano que entrei nesta morada, a que conduz aos confins de uma alma, de um corpo e de um só coração. Passou um ano. O corpo ganhou umas quantas rugas, o coração umas quantas cicatrizes e a alma umas quantas sombras. Podemos sair vitoriosos das batalhas, ganhar inúmeras guerras, mas nem sempre saímos ilesos. E hoje a noite está fria. Um vento cortante arrasta as poucas folhas que ainda sobrevivem nas árvores despidas. Ao longe, a lua cheia ilumina o meu semblante enquanto caminho pelas ruas húmidas e escuras. Falemos de um amor. De uma relação. De partidas e chegadas. E de guerra e paz. Palavras que existem no livro que escrevemos, na sonata que tocamos…
Há dias em que o amor vive, imponente e forte. Há dias em que apenas sobrevive. Outros há em que adormece, como nos contos de fada, à espera de um beijo que o acorde de um sono profundo. Amámo-nos há bastante tempo. Há décadas, diria até… E o que temos às vezes é tão pequeno como a própria insignificância humana. Outras, é tão esplendoroso como o arco-íris que surge quando a tempestade se afasta tumultuosa. Mas é um amor feito de momentos. De peças de um longo e interminável puzzle. E tudo é tão fácil quando estamos juntos. Quando podemos estar juntos. Mas tu não és exclusiva desta relação, nem desta morada, que partilhamos há um ano. Namoro contigo e com o tempo, com ciúmes, fantasmas, dúvidas e infindáveis reticências. Um amor que se gasta e também se desgasta. E que procura se renovar e fortalecer. Mantido através de encontros, tantas vezes fugazes, nem sempre devidamente aproveitados. Quando gastamos o tempo a falar de outras personagens, que só ganham a importância que lhes queremos dar. E assim se passam os dias. E, tal como tu, carrego este amor nas mãos. Afasto dele todos os perigos. Tento cuidar o melhor que posso. Mas não o consigo fazer sem ti. Sem a tua presença. É pedir muito?! Por enquanto amo-te na plenitude das minhas capacidades. Ainda alimento sonhos e desejos. Ainda toco as notas de uma sonata escrita a duas mãos. Ainda estendo a mão à procura da tua...
Mas, na minha cabeça multiplicam-se as dúvidas. E as inseguranças. E, confesso, alguma descrença. Há tantas diferenças entre nós. Vidas tão distintas. E prisões… Por isso, questiono tudo vezes sem conta. Porque não sinto segurança. Porque não sei se o amanhã existirá. Aquele que sonhamos ou desejamos. É por isso que caminho sozinho nesta noite fria. Porque assim ainda vejo uma sombra que surge de quando em vez na luz reflectida pela lua cheia. E desejo que sejas tu quem me acompanha os passos solitários…

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