
Aprendi a ler as sombras nos teus olhos. São frias e escuras, como o abismo que existe no fundo do mar... São sombras tristes que te turvam o olhar e te enegrecem o sorriso... Mas tu és também feito de sombras, afinal... Por isso aprendi que há um mundo onde te moves, onde te escondes, muitas vezes para lamber feridas e apaziguar o coração magoado, e onde não posso entrar, onde nada posso fazer a não ser esperar-te... E tu sempre voltas, com o teu sorriso de sol, as mãos cheias de fome da minha pele, o teu perfume esperando o meu... Voltas sereno, a tranquilidade na ponta dos teus dedos, as palavras embrulhadas num mel que se agarrra a todas as sílabas...
Aprendi que tu és assim. Que recusas a confortável etiqueta da mediania e te concentras nos extremos e para ti a vida é só a preto e branco, a quente ou a frio, ácida ou doce... Recusas a barreira confortável do equilíbrio e mergulhas sem medo no radicalismo dos teus passos... Aprendi que és assim, meu amor. Aprendi a amar-te assim, tão ferido das batalhas que travámos, e tão feliz das vitórias que alcançámos...
Ao fim de quatro anos, foi isto que aprendi. E perdoa-me se te parece tão pouco... Perdoa-me se nem sempre te amo como esperavas que o fizesse, perdoa-me se tantas vezes não consigo manobrar o nosso barco e me deixo afundar...
Ao fim de quatro anos eu sou uma pessoa mais rica, sou uma pessoa melhor, porque te tive comigo, porque me ensinaste tantas coisas... Porque continuas a fazer-me sonhar sonhos lindos, como por exemplo aquela varanda num décimo andar onde abraçados veremos um dia todos os entardeceres... Aquela varanda onde haverá sempre um cheiro a mar e uma luz rubra e quente, a luz de todos os poentes que viveremos... até que a morte nos separe.
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