
Não sei como começar. Não sei por onde começar... Faz hoje uma semana que vivi contigo uma das noites mais bonitas da minha vida... lembras-te? Tu disseste que os meus olhos estavam felizes... e estavam! E eu disse-te que sentia medo... Sempre senti medo deste amor avassalador que nos une, que rompe o peito e estilhaça a vida em mil pedaços quando tu não estás. Este amor único nos seus contornos, puro, difícil de viver, como se tentássemos todos os dias matar a sede com água salgada... Este amor de saudade, de falta, de ausência... mas também de sol e de mar, que me fez tão feliz nestes dois anos que partilhei contigo. Este amor de água. De vida. De luz. A luz do teu sorriso...
Hoje partiste de mim mais uma vez. Pela última vez. E desde que te foste, há em mim um labirinto negro onde me perco, onde tento guiar os meus passos na direcção de uma luz que não existe, já não existe... Não sabia que o fim tinha este sabor a morte... Algo morreu dentro de mim desde que saíste. Talvez tenha sido eu própria que não existo mais, matei a mulher que amaste no momento em que partias. Esta que te escreve agora, é já outra, não mais a mesma... A mulher que amaste pegaria em todas as armas e lutaria por ti, mais uma vez... e outra... e outra ainda... até ao fim do mundo se assim fosse preciso. Esta, desistiu... Desistiu de agarrar o vento nas mãos... Tu és assim, como o vento que adoras, livre, sem amarras, invisível quando queres, destruidor tantas vezes...! Amei-te tudo o que sabia, o melhor que sabia... Não foi suficiente, eu sei. Talvez por isso, fico encostada a esta dor, imóvel e tão fria como a noite. E espero. Espero com esperança que o tempo apague esta dor cortante e me deixe só a memória do nosso amor tão raro... tão improvável... tão lindo e especial...
Amo-te muito... sabias? Tu fizeste de mim uma pessoa melhor do que eu era, mas mostraste-me também que na vida há equações cujo resultado nem sempre é um número par, ou inteiro... Saio assim da tua estrada, com um coração ímpar e partido... mas com a certeza absoluta de que contrariando toda a lei das probabilidades, tu foste a metade que me completava, a peça que me tornava inteira, o meu princípio e o meu fim... Hoje tento imaginar os meus dias sem ti... e assusta-me... Terei que reaprender a viver, com esta dor no peito e esta saudade que não morrerá nunca... porque o tanto que eu te amo é infinitamente maior que qualquer outro sentimento que guardo hoje no coração e vencerá a distância, a ausência, e até o silêncio.
Nunca te esquecerei. Isso simplesmente não é possível... e sei que também não morrerei nunca dentro de ti. Tenho esperança que me guardes com carinho dentro do peito e que pela vida fora, me evoques com uma saudade doce e com um sorriso inesperado... Quero ser uma memória boa, que não te magoe, que fique só ali aninhada, a iluminar os teus momentos de solidão... Nunca quis magoar-te, meu D., no fundo tu sabes e eu sei que nós nunca quisémos magoar-nos... Mas por tê-lo feito, perdoa-me... ou tenta perdoar... e recomeça. Agora já sem mim, recomeça sem sombras a tua busca da felicidade, recomeça com o teu sorriso tão doce, que enchia de sabor a minha boca e de luz a minha vida. Eu estarei sempre contigo.
Este espaço que era nosso, termina hoje aqui. Não escreverei nunca mais, mas fica assim, como o abandonaste. Quero poder voltar e ler as tuas palavras, as que escreveste para mim, sempre com o coração... Quero poder entrar aqui e sentir os teus dedos como música, tocando-me o corpo e a alma... Quero vir aqui sempre que for preciso manter a lucidez, recuperar o equilíbrio, espantar as dores mais negras da saudade... e ler-te-ei, meu amor, e ficarei o tempo que for preciso abraçada a ti, para que o meu mundo não desabe... escutando todos os ecos dos teus passos nesta SONATA A DUAS MÃOS...